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O Convite • Jornada Literária | Blond Fox

✨️ O Convite ✨️




Alguns segredos de família são mais sombrios do que outros.
O bairro dos Samaritanos era um santuário de aparências. Casas idênticas, jardins milimetricamente podados, vizinhos que sorriam com os dentes — mas nunca com os olhos. Ali, o silêncio era cultivado como uma flor rara. E nos porões abafados e sótãos trancados, dormiam segredos que não deveriam respirar.

Na noite de Halloween, a família Moreira abriu suas portas para a tradicional festa. A fachada era impecável: abóboras esculpidas com precisão cirúrgica, trilha sonora suave, convidados fantasiados com esmero. Mas havia algo errado. O ar parecia conter ferro. E o cheiro — um leve odor de carne crua — se misturava ao perfume das flores.

A filha dos Moreira, Isadora, deslizava pelo salão como uma sombra. Vestida de dama vitoriana, com olhos que não piscavam e um sorriso que parecia costurado. Todos a admiravam, mas ninguém se aproximava demais. Havia algo nela que repelia. Algo que não se via, mas se sentia. Como um sussurro vindo do porão.

Foi então que ele chegou.

Não pela porta. Pela terra.

O chão do jardim tremeu. Um som grave, como ossos quebrando transmitindo a ideia de transformação física — como se o corpo do belo moço que surgiu das trevas estivesse se moldando, os ossos se deslocando e se reorganizando para assumir sua nova forma. Sua antiga aparência  carregava uma imagem visceral e inquietante, monstruosa pode se dizer perfeita para criar tensão e sugerir dor e metamorfose, que ecoou entre as paredes. E da escuridão, surgiu uma figura alta, de ombros largos, com olhos âmbar que brilhavam como brasas. A pele parecia humana, mas esticada demais. Os dedos, longos demais. E o cheiro… o cheiro era de floresta molhada e sangue fresco.

Ninguém o reconheceu. Mas todos sentiram. O instinto gritou. E o medo se calou.

Ele entrou sem ser anunciado. Sem ser barrado. Como se a casa o aceitasse. Como se o bairro o esperasse.

Isadora o viu. E pela primeira vez, seus olhos piscaram.

— Boa noite — disse ela, com a voz que não combinava com sua idade.

— Boa noite — respondeu ele, com um timbre que parecia vir de dentro da terra.

O salão silenciou. Não por respeito. Por pavor.

— Você é novo por aqui?

— Não. Apenas desperto quando o sangue chama.

Ela sorriu. Um sorriso que não era dela. Que parecia emprestado de algo antigo.

— Hoje… o sangue chamou alto.

Ele se aproximou. Os convidados se afastaram. A música parou. E o mundo pareceu prender a respiração.

— Você sabe quem eu sou? — perguntou ela.

— Sei o que você esconde.

— E mesmo assim veio?

— Vim porque é noite de caça.

Ela estendeu a mão. E o toque foi como um choque. Como se duas maldições se reconhecessem.

— Quer sair daqui comigo?

Ele não respondeu. Apenas rosnou. Um som baixo, gutural, que fez as janelas tremerem.

Saíram juntos. Mas não pela porta. Pela escada que levava ao porão.

Lá embaixo, entre correntes enferrujadas e ossos antigos, a verdade se revelou.

Isadora não era humana. Nunca foi. Era filha de pactos. Criada com sangue e silêncio. Alimentada por desaparecimentos. Guardada por uma família que sorria demais.

Mas o belo moço não era o que aparentava, rasgando sua pele fria , eis que surge um  lobisomem que não veio para se curvar. Veio para destruir.

O confronto foi brutal. Gritos abafados, carne rasgada, paredes manchadas. O porão virou altar de fúria. E quando o silêncio voltou, só um corpo se movia.

Ele subiu as escadas. O rosto coberto de sangue. Os olhos ainda em brasa.

A casa dos Moreira foi encontrada vazia no dia seguinte. Sem móveis. Sem corpos. Sem rastros.

Mas nas noites seguintes, o belo moço de olhos em brasa voltou. Ele sempre volta…
Para outras casas. 
Outros porões. 
Outros segredos.

E os Samaritanos… continuam sorrindo, em suas casas que guardam segredos fedidos com um tom amadeirado de medo. A evolução do mal se concretiza. O verdadeiro monstro foi vencido, mas outros virão
E o caçador… ainda está faminto.

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Beijos da raposa 🦊

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